Pois é, depois dos melhores jogos das 128 bits, cortesia do Sr. Silvestre, lembrei-me de fazer uma com os piores, só para ser do contra. Isto não é uma lista nem irá incluir um numero certo de jogos, á medida que me for lembrando vou adicionando jogos. Se quiserem ver algum jogo nesta lista deixem a sugestão nos comentários ou em NewAgora@hotmail.com. Dito isto:
Matrix: Path of Neo - XBox, PS2, GameCube, PC
Primeiro tenho que fazer justiça a este jogo. Aconteçe

que uma das minhas duvidas existenciais no final de 2007 foi decidir se devia acrescentar este jogo ao top 10 dos melhores ou colocá-lo entre os piores, acabou por vir parar aos piores devido ao factor técnico. Eu costumo dizer que o que "matou" este jogo multi-plataformas foi ter saído uma geração mais cedo do que seria desejável, pois as 128bits e os PC's da altura não o conseguíram tratar como merecia. Se tivesse saído agora, com o espaço disponibilizado por um disco Blue-Ray (PS3) ou DL-DVD (X360), a qualidade gráfica de uma 8800 e a física apoiada no sistema Ageia, não tenho duvidas que este seria um sério candidato ao pódio.
Este é um jogo para os verdadeiros apreciadores da Matrix que tem tanto de genial como de frustrante. É como ser o protagonista dos 3 filmes, com o bónus de passar por situações incríveis que não são vistas nas películas dos irmãos Washowski (que realizaram as cutscenes para este jogo) E o problema reside exactamente aí: Como é que se encaixa um jogo de acção que pretende recriar não um mas três filmes com cutscenes retiradas directamente dos cinemas num DVD de camada simples? Corta-se nos gráficos e restante departamento técnico.
Começando pelos aspectos positivos: A história é das mais cativantes e imersivas que eu já vi num videojogo. Tal como o primeiro filme, começa com o Neo a dormir em frente ao computador, mas desta vez podemos ver o que é que o rapaz está a sonhar. No seu sonho Neo encontra-se frente a Morpheus, que lhe oferece os famosos comprimidos. Tomem o azul e o rapaz acorda em frente a um monitor em branco e voltam ao ecrã de titulo. Tomem o vermelho e estão no "átrio das colunas", palco do tiroteio perto do final do primeiro filme, dos elevadores vão saindo inimigos que têm que combater, com todas as vossas habilidades desbloqueadas, mas sem qualquer tipo de tutorial. Primeiro aparecem seguranças, depois policias, SWAT, comandos militares, e por fim agentes. O tempo que aguentam serve para definir o nível de dificuldade do jogo. Vêem uma cutscene e encontram o Sr. Anderson no escritório, quando ele recebe a famosa chamada telefónica de Morpheus, mas agora cabe ao jogador manter-se agachado e escapar-se entre os cubiculos para evitar a captura. Ao chegar á janela o telemóvel cai, mas o nível continua. Temos que chegar ao telhado e depois descer até á rua, sendo que em qualquer momento podemos optar por aceitar a captura e parar de fugir, mais uma vez o ambiente é bastante vivo, com trabalhadores que nos ajudam e outros que chamam a policia, e o único "ataque" que podemos efectuar é empurrar alguem que nos barre o caminho ou sacudir alguem que nos agarre, é claro que isto não resulta com os agentes. Depois vem a parte do treino. No filme o treino durava 10 segundos e depois seguia-se o combate contra Morpheus no dojo. Aqui leva algumas 4 horas a acabar se explorarem bem o ambiente e leva-nos a passear por grutas ocupadas por membros de uma tríade chinesa, um restaurante que passa a servir de campo de tiro, um dojo jogado todo a preto-e-branco, um combate de espadas num jardim Zen e outro numa típica floresta japonesa. Por fim o dito combate no dojo. Até a cena do "salto" foi substituída por um percurso de obstáculos que nos leva a percorrer meia cidade por terraços e paredes. Mas as cenas geniais continuam, como a passagem por uma estação de metro dos anos 30 com o código corrompido em que há um barril a arder no tecto, bilhetes a flutuar em torno das bilheteiras, um comboio com uma carruagem virada ao contrario em que os passageiros flutuam pelo ar a ler o jornal como se nada fosse entre outras situações bizarras. Ou então o castelo do Merovingean em que depois do combate na escadaria percorremos salas opulentas forradas a mármore resplandecente e masmorras repletas de adereços sado-masoquistas a desbastar hordas de vampiros e lobisomens, passando inclusive por um labirinto em que temos de encontrar a porta certa. Até aqui nada de especial, não fosse o labirinto ser totalmente tridimensional, estar a flutuar no espaço e ao atravessar uma porta ir parar a uma localização no outro lado do cenário e no tecto, ou dobrar uma esquina e começar a subir uma parede vertical. Este nível deve ser o pesadelo de qualquer programador. Até acabar num combate com uma senhora vampira gótica que nos atira com estátuas, colunas e até paredes que temos que parar no ar e atirar contra ela utilizando os poderes do escolhido. E as cenas geniais como estas sucedem-se.
Agora o que me leva a incluir este jogo magistral na lista dos piores. Para começar os gráficos. A estação de metro e os dojos referidos acima cumprem bem a sua função, o castelo do Merovingean está magistral, repleto de mármores e esculturas extremamente detalhados. Agora o problema é o resto do jogo. O efeito de cabedal nas roupas faz os personagens parecerem vestidos com sacos de lixo, a maior parte dos personagens parecem saídos de um jogo de 64 bits, os telemóveis são autenticas telhas e os monitores de computador são caixotes brancos com um lado verde. No fundo mistura partes de gráficos bastante bons com outros dignos de uma Dreamcast ou mesmo de um jogo dos melorzinhos da N64, dando uma aparência de acabamento á pressa. O motor de física também não ajuda levando-nos a espancar o analógico vezes sem conta até conseguir fazer "aquele salto" ou "aquela manobra", situação para a qual os controlos pouco intuitivos não ajudam nada, especialmente ao usar armas de fogo, para alem de no combate corpo-a-corpo bastar premir repetidamente o botão "Y" (na XBox) para eliminar um adversário com combos incríveis. Os combos difíceis de efectuar estão presentes, mas são quase desnecessários e só se efectuam pela satisfação de os fazer. Para concluir, e provavelmente devido ao pouco espaço forneçido pelo DVD, as cutscenes cinemáticas limitam-se a um "corta-e-cola" de sequências de 5 a 10 segundos dando um todo algo incongruente, sendo possível encontrar na mesma cutscene bocados dos 3 filmes, e não pela ordem normal. No fundo quem não conhece a fundo a obra acaba por ficara "a anhar" pois as cutscenes acabam por ser apenas um apanhado das frases mais marcantes e poéticas misturadas e compactadas num filme de 1 ou 2 minutos.
No fundo este não é um jogo mau, é uma decepção do tamanho de um cachalote. Se fizessem agora um remake com os gráficos todos no sitio, um esquema de controlos revisto e cutscenes tal como apareciam no cinema em vez de esta colagem acho que, e apesar de a Matrix já ter "passado de moda" há uns tempos, teríamos um sério candidato a Jogo do Ano e certamente um titulo marcante na geração de 256bits. Em todo o caso, se gostaram dos filmes, joguem-no, quanto mais não seja pelo final alternativo, mas se apenas querem um jogo de acção esqueçam pois como jogo é manifestamente mau.
O Editor:
Carreira, David